Achei que devia deixá-los em casa e depois seguir para um hotel na cidade. Por nada no mundo eu teria ido para a casa de Dom Genaro; mas Nestor não quis sair do carro, nem Pablito, nem eu. Acabamos em casa de Pablito. Ele mandou Nestor comprar cerveja e Coca-Cola, enquanto a mãe e as irmãs nos preparavam alguma coisa para comer. Nestor fez uma brincadeira e perguntou se podia ser acompanhado pela irmã mais velha, caso fosse atacado por cachorros ou bêbados. Pablito riu e me disse que Nestor lhe tinha sido confiado.
— Quem o confiou a você? — perguntei.
— O poder, é claro! Houve um tempo em que Nestor era mais velho do que eu, mas Genaro lhe fez alguma coisa e hoje ele é muito mais moço. Você viu isso, não viu?
— O que foi que Dom Genaro fez? — perguntei.
— Sabe, ele o tornou criança de novo. Ele era muito importante e pesadão. Teria morrido, se não tivesse ficado mais moço.
Havia algo de verdadeiramente cândido e cativante em Pablito. A simplicidade de sua explicação era esmagadora, para mim. Nestor estava realmente mais moço; não somente em aparência, mas agia como uma criança inocente. Eu sabia sem dúvida alguma que ele sinceramente se sentia como uma criança.
— Tomo conta dele — continuou Pablito. — Genaro diz que é uma honra tomar conta de um guerreiro. Nestor é um bom guerreiro. — Os olhos dele brilhavam, como os de Dom Genaro. Ele me deu uns tapinhas nas costas, com força, e riu-se. — Queira-lhe bem, Carlitos — disse ele. — Queira-lhe bem.
Eu estava muito cansado. Senti uma onda estranha de uma tristeza feliz. Disse-lhe que eu vinha de um lugar em que as pessoas raramente se querem bem, quando querem.
— Eu sei — disse ele. — A mesma coisa acontece comigo. Mas sou um guerreiro e posso me dar ao luxo de lhe querer bem.
(Porta para o Infinito)
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